"Ele voltou a ficar agressivo comigo, me batendo, falando ofensas e, desta vez, até me ameaçou de morte"

Posted: | por Felipe Voigt | Marcadores: ,
Querido Ogro,

Hoje sofro muito, pois não sei se devo acreditar mais um vez em um homem que sempre mentiu pra mim.

Vou explicar minha historia: tenho uma filha de 12 anos e morávamos em uma determinada cidade, mas minha mãe se mudou com minha filha e meu padrasto para outro Estado. Entre todos os motivos que fez ela se mudar, um deles é por que meu namorado me batia.

Bom, ela fez isso para me separar dele e eu fui com elas. Morei um tempo lá e voltei a morar com ele. Voltei acreditando que ele iria mudar, mas toda vez que eu desconfiava dele sobre qualquer coisa, ele ficava nervoso e me agredia.

Fugi dele e voltei a morar com minha mãe e filha, mas ele mandou dinheiro pra eu voltar, dizendo que me amava que não suportava viver sem mim. Voltei, fiquei um tempo com ele ate que eu comecei com as minhas desconfianças sobre ele de novo. Aí ele voltou a ficar agressivo comigo, me batendo, falando ofensas e, desta vez, até me ameaçou de morte se eu voltasse a morar com minha mãe.

Eu esperei ele ir trabalhar e fugi de novo. Hoje estou aqui em outro Estado novamente, mas ele mandou e-mail pra mim com fotos de quando me levou na praia, falando que me ama, que desta vez vai procurar um tratamento, que vai mudar, que me ama, que reconhece que errou comigo, que sempre foi verdadeiro comigo, mas que fico desconfiando dele e que por isso ele ficava nervoso ,mas que irá procurar se tratar.

Tenho minha filha e ela me falou que não quer me perder, que mesmo estando acostumada a ficar com minha mãe queria eu perto dela, que tem medo que eu seja morta por ele e disse ainda que se eu voltar pra ele é pra esquecer que tenho uma filha.

Estou perdida, não sei mais o que fazer.
Estou sem forças pra continuar lutando.
Minha cara idiota passiva,

Quantos mais tapas na cara você terá de levar (dele e da vida) pra acordar pra realidade? Homens com comportamento assim não mudam. Até se escondem por alguns dias ou poucas semanas, mas logo voltam a dar seu show machista opressor. E encontram em mulheres como você o respaldo para agir livremente.

Entenda: quanto mais você se sujeitar a ele, mais presa estará ao seu jogo manipulador. É esse vai-e-vem que o agrada, essa conquista do seu terreno cada vez que você se afasta. Homens como ele sentem prazer em ser cruel com uma mulher. Não há respeito, há apenas um sentimento de superioridade, por isso ele se “sujeita” a “descer ao seu nível” por um tempo. Ele diz que vai mudar, te deixa confiante e segura por uns dias e depois volta pra destruir tudo.

Sabe quando uma criança sente um enorme prazer ao destruir algo que outra criança está fazendo? Ela está lá, concentrada num castelo de areia ou num desenho e a outra chega destruindo. Proporcionalmente é o que ele faz contigo: te deixa subir um pouco teu castelo para depois destruí-lo com um sorriso no rosto.

Aliás, toda a conversa que vocês tem sobre isso apenas alimenta-o de uma maneira insaciável. Ele se nutre das coisas que você fala, só para legitimar os atos que tomará depois. A conversa é como se fosse um ensaio onde ele arquiteta todas as ações.

Sei que é foda acreditar que existam pessoas que fazem isso, agir com tamanha crueldade e frieza, mas existem e aos montes, ainda!

Você precisa identificar os motivos que te jogam de volta nessa situação. Como você se sente com ele? Estaria essa autoridade toda que ele exerce sobre você revelando uma debilidade emocional sua? Apesar das agressões, você se sente segura e protegida por alguém tão rígido assim? Você estaria tentando se punir por algo? Ou ainda: estaria tentando chamar atenção pra você ao se colocar nessa situação? Pode ser que, por todo mundo te alertar sobre a idiotice que é voltar para a tenda desse palhaço, você volte apenas para chamar atenção para si. E assim exercitar seu lado “coitadinha”.

Sim, também temos essa tendência de sentirmos pena de nós mesmos e, assim, ganhar o colo do mundo. E a melhor maneira de vermos isso é analisar com que freqüência sentimos pena do outro. Projetamos no outro o que sentimos e fazemos por ele o que gostaríamos que fizessem por nós. Aposto que você já sentiu pena dele diversas vezes, não?

E internamente você até tem questionado essa figura de autoridade que ele exerce sobre você. Sabe que a bajulação pós-agressão é apenas uma forma de “compensar” o erro. Como confiar na autoridade de alguém que nitidamente tenta compensar o próprio erro?

Não confunda o medo que você sente com respeito à autoridade dele.

O fato é que você sabe que não pode mais voltar a cair nessa lábia infundada de que ele te ama e que vai mudar. Besteira! Acorda pra vida logo, caralho!

Mas, se não quer fazer por você, faça por sua filha. Olhe para ela e pense se quer que ela passe por isso com um futuro namorado\marido dela. Gostaria de vê-la apanhando de alguém que julga amá-la? Não, né? Pois é... mas é exatamente isso que você está proporcionando a ela: um exemplo de submissão feminina. Saiba que essa sua postura ditará os futuros relacionamentos dela. Ela vai buscar uma familiaridade com o que você passa e se interessará, inconscientemente, por homens com o mesmo caráter. E fará isso para se aproximar de você, pois sofrerá o mesmo que a mãe sofreu.

É louco isso, não é? É... mas acontece a toda hora.

Agora é você quem decide que tipo de dor terá: a de ficar longe do seu “amor” e sofrer por umas semanas até encontrar um homem de verdade ou agüentar as dores físicas das agressões, as dores morais dos xingamentos e a dor na alma de ver sua filha crescendo com a imagem de que uma mulher pode ser agredida por um homem.

Sem contar que estou falando dos menores problemas que pode te acontecer. Estamos cansados de ver casos de crimes passionais. Não seria exagero imaginar algo assim acontecendo a você. Ou a você e sua filha. Já pensou nessa possibilidade? Pois é...

Pare de ser uma falsa-idiota, fique aí onde está, corte todo tipo de contato com esse real-idiota antes que seja tarde demais. Troque seu telefone, seu e-mail e tudo mais se for preciso. A melhor forma de se proteger é evitar o contato, mesmo que virtual.

Se permita conhecer um homem de verdade.
Sua filha te agradecerá. 

3 comentários:

  1. Bruna Salis disse...
  2. Eu resumiria com uma expressão: o bater-apanhar é um vício. Corte esse vício da sua vida! Permita-se, assim como o Felipe disse, conhecer um homem de verdade.

    Também luto contra a submissão, já passei por muitas coisas e não quero mais ser assim. Isso me impulsiona, a cada dia, a lutar. A não ceder. A não querer me colocar numa posição que não combina com a minha essência: não sou vítima. Sou guerreira.
    Acredite: é possível.

    Amor é outra coisa.
    Não se pode esperar algo tão sublime de alguém doente. Pois é assim que o seu "ex" se porta. É assim esse relacionamento relatado.

    Dê um basta e acorde! Há muita vida te esperando. Redescubra-se, reinvente, reviva, resignifique.
    Aí sim você será feliz.

  3. Carol Viana disse...
  4. E lá vamos nós outra vez ver uma mulher subjugada. Céus, como isso dói! E ainda vemos idiotas magistrados incorrerem na apologia de um mundo masculino e mulheres submissas. Não sei se por estar lendo algo que fala sobre esse pensamento de que a mulher trouxe o mal ao mundo e todas essas baboseiras em que a humanidade acreditou piamente séculos e séculos sem fim pra justificar a supremacia(oi?) masculina... isso só vem a confirmar que, como o Felipe disse, é hora de ACORDAR ... por você e por sua filha!
    Pessoas manipuladoras existem aos montes e nos irritam, nos magoam, nos deixam de boca aberta com suas peripécias e a audácia que tem em jogar com vidas e corações, mentes, enfim... tudo!
    Mas vamos parar pra pensar em algo mais duro ainda. A culpa não é só dos manipuladores. Nós, quando nos deixamos manipular(seja por qual motivo for) estamos enriquecendo e dando subsídios para que hajam como queiram com a gente.
    É reconfortante e dá forças pensar que as pessoas só fazem com a gente aquilo que a gente deixa. Então, reja enquanto ainda é tempo. E só parar de deixar ele fazer, parar de se permitir continuar vivendo essa situação. O exemplo da criança brincando dada pelo Felipe foi perfeito. É bem isso mesmo. E entre o amor dos dois, escolha sim, o da sua filha.
    Se fosse só a manipulação por si só já seria horrível, ainda mais com o agravante da agressão.
    O que me conforta é saber, que por mais que você incorra no "erro" de voltar pra ele sempre, uma hora seu amor próprio gritará e te deixará sabe o quê? CANSADA.... cansada dessa situação ( como já deve estar) e aí vai ser a hora de dar a volta por cima de tudo isso.
    SE AME, MULHER... ame a sua filha... esse amor por esse ser vai doer por uns tempos, mas o próprio cansaço te fará esquecê-lo e estar livre pra conhecer pessoas diferentes dele.
    Sorte pra vocês, garra e força! Pra vc e sua filha!

  5. Não importa disse...
  6. Que texto forte! A resposta, claro.

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