"Por que eu atraio e escolho homens que eu não admiro? Será carência excessiva ou burrice?"

Posted: | por Felipe Voigt | Marcadores:
Querido Ogro,

Acabo de passar por mais uma desilusão amorosa e um consequente término de relacionamento. Esta está sendo dolorida por ser a atual (óbvio né?!) mas também por acontecer num momento de fragilidade emocional devido a um adoecimento físico pelo qual estou passando. Ou seja, estou mais fragilizada e a "pancada" doeu mais do que devia.

Bom, já estou na casa dos 30 e venho acumulando uma série de desilusões. Seria muita ignorância da minha parte creditar tais insucessos apenas ao outro. É claro que tem algo errado comigo. Fiz uma análise das minhas atitudes e sou um ser humano como qualquer outro. Tenho algumas qualidades e vários defeitos.

Mas uma coisa posso garantir: se estou com alguém, estou com este alguém por inteiro. Trato com carinho, cuidado, respeito, atenção. Sou carinhosa e principalmente sei agir com bom senso. Presto muita atenção à forma de ser do outro para tentar adequar as diferenças. Tudo dentro de um limite: se não me fere e não me anula como pessoa, eu tento me adequar.

Aí é que começa o problema. A contrapartida não acontece e a frustração chega. E geralmente o perfil do outro com quem estou me relacionando acaba sendo o oposto da minha forma de pensar e agir. Tudo bem que o existe o tal do "Os opostos se atraem". Mas considero isso como extremamente complicado numa relação onde só um cede. Tenho extrema dificuldade em lidar com homens agressivos, estúpidos, mesquinhos e com algumas outras atitudes que desaprovo. É certo que ninguém é totalmente bom ou totalmente ruim. O fato é que só percebo estas atitudes que não concordo depois de um certo tempo de envolvimento.

Hoje, numa sessão de terapia, fui induzida a parar pra pensar em algo que achei bem interessante. Por que eu atraio e escolho homens que eu não admiro? Será carência excessiva, onde quero estar com alguém independente de quem seja esta pessoa? Seria burrice da minha parte ceder sempre? Ou seria burrice da minha parte esperar que o outro ceda? Ou estou dando importância demais pra um relacionamento? Ou seria tudo isso junto e misturado??

Minha terapeuta me deu uma luz que achei bem interessante sobre este comportamento. Mas quero ouvir sua opinião sempre tão sincera e cheia de sabedoria.

Ajuda-me? Beijos e obrigada!

Minha cara iludida,

Minha vontade não é te falar nada, mas sim te bater. Porra! É normal se depreciar ao término de uma relação, mas é preciso começar a enxergar onde está errando. E, claro, sempre manter em mente a opção de o erro ser a pessoa que escolheu pra dividir sua cama.

Pelo visto, você deve ser daquele tipo que se afasta de tudo e de todos quando está numa relação, certo? Corta contato com amigos, evita proximidade com quem te atrai – só para não “cair em tentação” – e se sujeita às vontades do ser amado. Né? Claro: afinal, basta ele para garantir toda a sua felicidade e bem-estar. Mas eis uma novidade pra você: isso é chato pra caralho! NINGUÉM gosta de ser responsável pela felicidade alheia. É algo opressor, inquisidor, quase uma castração emocional. É um peso desnecessário.

Mas o que foi que te iludiu amorosamente? A reação dele? O descaso? A falta de comprometimento? Ou ele não se doou tanto quanto você acha que ele deveria ter se doado? Você disse que estava num momento de fragilidade emocional. Será que isso não mexeu com seu discernimento? Será que justamente por estar fragilizada não colocou projeção demais em cima dessa relação? Aí você se frustra porque não teve tudo o que esperava...

Está na casa dos 30 e acumulou desilusões. E isso tem de ser levado em conta. Nessa década de vida, geralmente a mulher começa a olhar pra trás e se questionar em tudo. E isso deixa o presente todo conturbado. Eu a chamo de a década dos “será” e dos “e se”. Acredite: praticamente toda mulher passa pelos 30 com essas interrogações na cabeça, no peito e na buceta... Questiona suas razões, suas emoções e até seu prazer.

Mas, vem cá: precisa mesmo ter algo de errado em você? Sério: a errada tem de ser você? Mesmo que credite uma parcela ao outro lado, às vezes você apenas teve azar em pegar homens que não valham a pena. E é nisso que tem de focar: por que os escolhe?

Sua terapeuta disse que se atrai por quem não admira. Será mesmo? Quando se interessa por alguém, algo chamou sua atenção. Por mais que tenha propensão a sabotar relacionamentos (e isso demonstra um medo de envolvimento com outro ser humano do sexo oposto), seria demais achar que você olha pra alguém, o despreza como gente e aí vai atrás dele. Comportamento suicida demais... e não acho que seja o caso. Aparentemente, qualquer motivo é motivo para justificar seu estado emocional e suas posições em relação ao outro.

Você se atrai pelo desafio. Encontra alguém quebrado, cheio de defeitos aparentes, e tenta consertá-los. Pega pra criar, sabe? Claro: se é alguém tão diferente de você, logicamente que você poderá ensinar algumas coisas. É a tendência num relacionamento: achar que o outro tem muito a aprender conosco. Somos soberbos pra caralho, mesmo.

Enfim, você vai, se submete demais, se joga demais e aí descobre uma verdade imutável: ninguém muda ninguém. Se alguém era assim no começo, continuará sendo no final. E se mudou, é porque aquele um que conheceu não era ele mesmo. Era apenas alguém adaptado. Assim como você mesma se adapta. Quantas vezes ouviu aquela gostosa frase: “Você mudou tanto...”. Mentira! Você não mudou, apenas estava adaptada a uma relação, se anulando e se rebaixando. E faz isso pra agradar ao outro. Quer coisa mais chata do que isso? Alguém dedicado integralmente à você? Chega a dar coceiras só de pensar...

Não seja tão servil. Não faça todas as vontades do outro. Nem ignore as suas apenas porque ele “não vai gostar se eu fizer”. Foda-se! Quer fazer? Faça! O outro lado que lide com isso. Conviva com o fato de ter uma mulher que tem desejos próprios, que tem autonomia de caráter e que, ainda assim, é frágil emocionalmente. Afinal: quem não é, né?

Não caia nas chantagens emocionais, nem corra socorrer o coitadinho toda vez que ele se sentir abandonado pela “mãe” dele. Você não precisa de um filho, precisa de um companheiro.

Só que terá de engolir também o fato de que nem sempre o outro lado irá corresponder às suas expectativas. Vê: o mal das expectativas é justamente esse! Cria-se a imagem de uma coisa que ainda não é e que talvez nunca terá condição de ser. Mas quando surge, não tem nada daquilo que projetamos. Mantenha-as sempre baixas. Assim os ganhos são mais bem sentidos e as perdas quase imperceptíveis.

Só não se afaste de todo mundo apenas por estar numa relação. Ser humano nenhum agüenta a pressão que é ser a razão da existência de outro ser humano. Divida o fardo...

Ah, e aceite uma coisa: às vezes com esse cara era apenas um namoro-muleta e você achou que era a prótese perfeita para seu coração manco. Todo mundo usa bengalas pra isso... até você, até os que passaram por você. Já parou pra se ver como a muleta de alguém?

5 comentários:

  1. Anônimo disse...
  2. Pode me bater que eu mereço!
    Fui servil e submissa demais. O que minha terapeuta disse encaixa-se perfeitamente com suas sábias palavras.
    Eu sempre quero "cuidar" do outro, fazer tudo por ele e esqueço de mim.
    Eu me anulei e me afastei de um monte de gente só para dedicar tempo e atenção a ele.

    Ele era o cara errado desde antes, mas eu, na minha soberba, achava que eu poderia mudá-lo. É aí que entra o pulo do gato: da próxima vez vou analisar primeiro pra ver se este cidadão é bom pra mim ou pra minha terapeuta. Ou seja, se ele é um homem para estar ao meu lado como companheiro ou se é alguém que precisa de uma mãe ou de terapia.

    Por "coincidência" a mãe desse homem faleceu há alguns anos. E não é que a boba aqui assumiu este lugar? Tudo que começa errado acaba terminando errado mesmo.

    Minha terapeuta credita minha atração por este tipo de cara exatamente por esta soberba que você descreveu. Eu sempre acho que posso ajudar.

    Ok, eu até posso. Mas pro cara que estiver ao meu lado eu não quero um paciente. Quero um companheiro. Você falou tudo.

    Hora de concentrar minha ajuda em outros setores. E parar de depositar expectativa no outro.

    Bom, aprendi a lição.
    E te agradeço demais por ter me ajudado.

    Beijos da ex-iludida.

  3. Anônimo disse...
  4. Pq a obviedade das coisas vem sempre tão cheia de sutilezas ate a gente levar um tapa na cara e perceber a tal auto sabotagem? As pessoas são o q são desde o momento q a conhecemos... Nos q acabamos OPTANDO por abrir mão de muita coisa por um relacionamento e depois cobramos algo q nunca esteve ali.
    Mas q merda, neh??

  5. Claudia disse...
  6. Bom ...A um ano que entro em seu blog diariamente, leio todos as Historias e cometarios e hoje me deparei com uma historia muito parecida com a minha,Me entrego totalmente aos meus relacionamentos e esqueço de Amar a mim mesmo!
    Parabéns querido Ogro, suas palvras são sempre sábias
    Grande Bj

  7. Anônimo disse...
  8. Eu tbm estou com 33 anos e vivendo esse momento de REFLEXAO! Estou exatamente nessa fase e essa historia e muitissimooooo parecida com a minha!!! Precisamos nos AMAR primeiro. Como ajudar alguem, se nao conseguimos nos ajudar. E ja falei para o meu marido. Se ha alguem que preciso ajudar sao pessoas deficientes, dificuldade de inclusao social, as pessoas que vivem em condicoes sub humanas na AFRICA etc. Por isso, todas as minhas "bondades" e auto confianca que tenho e a certeza de ajudar meus "relacionamentos" acabou....vou dedicar-me a quem realmente precisa. E mais.....nesse momento perceberei se o meu companheiro realmente e uma pessoas que admiro e AMO. Pela ATITUDE que ELE tera diantes dessas situacoes. Um beijoooooooooooo a todos

  9. Anônimo disse...
  10. Eu tbm estou com 33 anos e vivendo esse momento de REFLEXAO! Estou exatamente nessa fase e essa historia e muitissimooooo parecida com a minha!!! Precisamos nos AMAR primeiro. Como ajudar alguem, se nao conseguimos nos ajudar. E ja falei para o meu marido. Se ha alguem que preciso ajudar sao pessoas deficientes, dificuldade de inclusao social, as pessoas que vivem em condicoes sub humanas na AFRICA etc. Por isso, todas as minhas "bondades" e auto confianca que tenho e a certeza de ajudar meus "relacionamentos" acabou....vou dedicar-me a quem realmente precisa. E mais.....nesse momento perceberei se o meu companheiro realmente e uma pessoas que admiro e AMO. Pela ATITUDE que ELE tera diantes dessas situacoes. Um beijoooooooooooo a todos

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