“Aos 6 anos, fui vítima de abuso sexual. O pedófilo era um vizinho de idade avançada, avô de um amiguinho de infância”

Posted: | por Felipe Voigt | Marcadores:
Querido ogro,

Pra começar, digo que desconfio da sua disponibilidade e vontade gratuita de ajudar. Receio de que casos tão complexos quanto os que li sejam pra ti e pra outros leitores um meio de diversão... como diz o ditado: "Pimenta nos olhos do outro é refresco". Espero estar enganada.

Mas ainda assim, vou me aventurar e contar parte da minha história:

Aos 6 anos, fui vítima de abuso sexual. O pedófilo era um vizinho de idade avançada, avô de um grande amiguinho meu de infância. Esse velho costumava se sentar num banquinho na frente da casa dele. Ali, me pegava no colo e colocava as mãos dentro dos meus shorts, por trás, e ficava me masturbando até que seus dedos ficassem úmidos. Depois, ele entrava em casa, com a mão próxima ao nariz, provavelmente sentindo prazer com o cheiro da secreção que saía.

No meu primeiro dia de aula, minha mãe me arrumou toda, e quando passamos na porta da casa desse tal velho asqueroso, ele me elogiou e pediu um abraço. Ele era tão maquiavélico que conseguiu me colocar em seu colo e, enquanto distraía a minha mãe com conversas, abusou de mim.

Pensa numa criança angustiada.

Aos 12 anos, conheci uma menina que tinha sofrido abuso e tinha tido várias relações sexuais. Essa menina era mal vista pelos meus colegas, mas nós ficamos amigas. Pude observar que ela tinha uma deformação na vagina, como se os grandes lábios ficassem visíveis. Eu tive a péssima ideia de esticar meus clitóris para ficar parecida com ela. Hoje tenho muita vergonha de minha vulva, e espero um dia poder fazer uma cirurgia para reverter.

Enfim, tomei trauma de escola e ódio dos meus pais. Quando tive coragem de contar pra eles, eu já tinha 19 anos e estava envolta numa depressão. Eles reagiram me dando uma surra horrível e humilhante.

Hoje, aos 27 anos, moro com meu namorado, nos damos bem, mas ele não sabe dos detalhes dessa experiência. Tenho muita vergonha do meu corpo... e da minha história... sinto-me profundamente só e desprotegida.

Angústia é mato, meu caro...

Pode publicar a minha história, mas preserve minha identidade, ok?


Minha cara desconfiada;

Desconfia por que? Onde leu algo, no meu blog, algo indique que eu esteja me divertindo com o que recebo? Onde, em sua vã consciência, estou usando daquilo como simples meio de entretenimento próprio e alheio? Colocações extremamente lamentáveis, ainda mais vindo de alguém que passou por um trauma sexual na infância... Deveria entender, melhor do que ninguém, que o que tento fazer aqui é tão somente levar um pouco de alívio, mesmo que momentâneo, a quem sofreu abusos. Realmente lamentável e desnecessário colocar isso dessa forma...

Agora que já te dei uma bronca, vou relevar o que me disse no começo e esquecer que duvidou de mim de forma tão ácida e radical, mas por conta de entender que está arredia com o mundo em geral. E, mesmo com tanta desconfiança e dúvida, ainda optou por confiar em mim. Isso pode ser um avanço para conseguir o que tanto precisa: voltar a se sentir segura e confiar em alguém de forma gratuita e sem medo.

Disse que foi aos 6 anos e se lembra de todos os detalhes, mas acredito que muitos dos espaços em branco na sua memória você tenha preenchido com o que acredita ser a realidade do que aconteceu. Você se lembra de pequenos flashes do que houve, o resto sua mente tende a preencher de forma ou mais punitiva ou mais amenizadora. No seu caso, está se punindo ainda mais do que deveria e precisa.

Mesmo que tenha puxado seu "clitóris" pra ficar parecido com o da sua amiga, isso não faria de sua vagina o que ela é hoje. Não é porque ela é mais proeminente que isso foi causado por conta do que fez na adolescência ou sofreu na infância. Nem mesmo com sua amiga foi assim. Conheço mulheres com a região genital mais avantajada e nem por isso foi culpa de algo como o que você fez. Isso é tão somente sua anatomia e não deveria se envergonhar disso.

O que acontece é que, talvez, tenha vergonha do seu sexo em si, da sua vagina e do que ela pode te causar de lembrança física e emocional. Você projeta ali todo seu trauma sofrido e por isso tende a repudiá-la com veemência. E já vimos que repúdio é seu forte, foi assim que abriu esse e-mail, certo? Por que não estaria fazendo o mesmo com sua vagina? Será que se ela fosse mais fechada, não iria sentir vergonha do mesmo jeito?

E ainda: confiou em seus pais e sofreu retaliação deles. Isso apenas fez com que todo seu processo se engessasse, retraindo ainda mais você nesse mundo só seu e que ninguém parece entender, não? O grande fator agora é: como você pode superar esses enormes pequenos obstáculos que tanto te prendem? Como conseguir deixar isso para trás, sem parecer que é um problema pequeno e sem valor?

Justamente lidando com isso dessa forma: é algo enorme, mas que se transformará em pequeno conforme você for dando menos valor a isso. É impossível? Não. E como podemos fazer isso? Resgatando o poder sobre você, sobre seu corpo, seus desejos e suas angústias. Você não vai querer deixar que esse vizinho asqueroso ainda tenha poder sobre você. Ele pode ter tido, por um instante, sobre aquela menina de 6 anos, mas não terá mais sobre essa mulher de 27. E quem vai tomar conta daquela menina é essa mulher em que você se transformou. É sua obrigação tirá-la dele. Toda essa defesa que criou contra o mundo é o que fará você conseguir resgatá-la daquele banco, daquela situação...

É preciso encarar essa situação, não tente deixá-la pra trás. Quanto mais medo tiver de revisitar esse passado, mais grandioso ele se tornará dentro dos seus pensamentos e coração. Conforme for voltando e acendendo velas de clareza emocional, menos escuros estarão esses corredores do seu passado. Uma coisa por vez... no seu tempo, na sua dedicação e no seu limite. Repasse esses momentos que elencou para mim e busque uma compreensão mais madura para o que houve.

Até mesmo com seus pais: quais motivações eles tiveram pra agir daquela forma? Quais limitações ambos possuem em educação, religião, compreensão do mundo? Às vezes, eles são somente tão ignorantes quanto a maioria das pessoas que conhecemos. E, infelizmente, cabe a nós entender melhor, cabe a nós superar suas ignorâncias e mostrar que somos maiores que isso tudo. Não digo para perdoar, porque isso é muito particular e nem faz tanta diferença assim. Mas compreender e entender as motivações faz muito mais por você do que um simples perdão.

Tenha todo seu momento de catarse, se revolte lembrando, chore, soque travesseiros e almofadas, engula o choro, respire e tente. Se não der na primeira vez, tente novamente. Com mais raiva, com mais choro, com mais bagunça mental... até conseguir acessar o que precisa.

Não tenha medo de confiar. Se ainda consegue sentir alguma segurança em alguém a ponto de morar com ela, é sinal de que há ai dentro um vestígio daquela menina que ainda pede por segurança e proteção. Você confiou a mim sua história, mesmo achando que eu me divertiria com isso. Por que não tentar confiar mais nele ou em uma amiga? Conte alguma coisa a mais, não ache que irão reagir como seus pais reagiram.

Ainda há quem vale a pena confiarmos nossos medos e fragilidades. Aqui no blog somos dezenas, centenas... você viu, mesmo desconfiada, que é possível. Por que não seria com você, minha cara?

4 comentários:

  1. Anônimo disse...
  2. Caro ogro, acho que me equivoquei desconfiando. Desculpe a sinceridade.

    Estranha experiência de expôr uma página desse livro secreto. Acho que preciso entrar nessa catarse...

    Muito grata por responder-me.

  3. Leninha disse...
  4. Foi algo que já aconteceu comigo e que eu "superei" procurando, sozinha, ajuda profissional. Mesmo assim, raras vezes, isso volta, não esqueci e ainda doi, ou eu lembro que doi.

    Faz algum tempo que acompanho o seu blog para aprender mais sobre esse universo tão obscuro. Acho que se eu aprender mais sobre isso, ver como aconteceu com outras pessoas, será mais fácil para que não volte a doer em mim e, quando eu for mãe, proteger meus filhos e/ou perceber se algo errado acontecer.

    Eu pretendo, algum dia, com mais calma, te contar minha história para você publicar aqui, para as pessoas aprenderem como são os sinais de uma criança que passou por isso. Eu lembro de ter deixado pistas para meus pais, lembro das motivações que me levaram a não contar nada, lembro de toda confusão na minha cabeça de menina, não lembro de detalhes, somente flashes.

    O que aconteceu comigo no passado me motivou a buscar sites de pornografia infantil e denunciar às autoridades competentes. Já encontrei sites nacionais e internacionais e todos foram fechados pouco tempo após as minhas denúncias. Espero que os culpados tenham sido presos.

    Obrigada pelo seu lindo trabalho aqui. Eu me emociono com cada relato, como se tivesse acontecido comigo da mesma forma. Leio todos os seus conselhos e tomo para mim. Muitas pessoas, que como eu sofreram abuso, devem ter encontrado seu blog e conseguido algum alívio para a alma, como eu consegui aqui.

  5. Anônimo disse...
  6. Aos 14 anos era um menino carismatico legal com todo mundo e o mais popular da escola um dia fui pozar na casa do meu primo meu primo tinha 17 anos ele era todo cheio de musculo nessa noite que fui posar na casa dele os pais dele os meus tios aviam saido e justamente fui posar la para ele nao ficar sozinho nos assistimos filmes ate umas 9:30 da noite durante um dos filmes fui pegar algo para comer na geladeira e ele ficou la deitado no sofa eu estava deitado no chao num colchao quando eu voltei para a sala ele estava pelado se masturbando e avis trocado de filme avia botado um filme porno na hora eu desliguie a tv e enpurrei uma coberta por cima do penis dele que tinha24 centimetro de conprimento e 6 de circunferencia sei disso por que ele me obrigo a medir o pau dele en entao depois que eu tapei o seu pau e desliguiei a tv ele tinha ficado brabo comigo e perguntou por que eu fiz aquilo e eu disse que era pra ela se vestir e que eu nao tinha idade para assistir aquele tipo de filme e ele disse que transa comigo eu disse nao e nessa hora ele se levantou e começou enfiar aquilo pra dentro da minha bunda e gritava e chorava de tanta dor que eu sintia e eu disse pra ele parar com aquilo e ele disse que so ia para de me comer quando ele achase que devia ele fez de tudo comigo e fez eu fingir que o penis dele era uma mamadeira e a estava chupando ela e saindo leitinha que nojo so de lenbrar ele so me largou eram 4:49 da madrugada por que os pais dele meus tios estavam chegando ele coreu ageigou a bagunça e disse pra min ir tomar banho eu nao consiguia caminhar e entao ele me deu banho e durante o banho ele me masturbou e se masturbou e disse que se eu contase para alguem ele ira fazer aquilo denovo e diria para as pessoas que era mentira como ele era quase um adulto elas acreditariam nele e nao em min ele me botou pra dormi e quando os pais dele chegaram ele disse que eu avia caido da escada e a minha tia se preucupou muito por que a minha bunda estava cheia de marcas roxas que era dos tapas que ele me dava pra min fazer mais rapido e pra min rebola com o penis dele dentro de min e fora essas marcas roxa s aviam diversas pancadas a minha tia so me deu um remedio e so no outro dia de tarde ja conseguia andar e me levaram para casa eu ainda estava com muita dor tudo passou hoje em dia tenho 28 anos sou medico ortoopedista casado tenho 1 filha moro no canada e vou uma ves por ano visitar minha mae no Brasil niguem da minha familia sabe dessa historia que aconteceu comigo para falar a verdade essa sait e as pessoas que lerem isto serao as primeiras para quem eu contei e me desculpen pelos erros de portugues fasia muito tenpo que eu nao escrevia em portugues thau

  7. Anônimo disse...
  8. Como posso deixar meu depoimento?
    Quero falar o que aconteceu comigo meu claro ogro por favor mim ajude pois não alguento mais ficar com esse segredo preciso falar .

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