Querido Ogro,
Utilizarei um pseudônimo: Lola. Bem, descobri seu blog por acaso, achei muito interessante e resolvi te mandar esse e-mail, mas minha "história" não é tão "dramática" quanto os depoimentos que li no blog. Tenho 18 anos e o que vou relatar ocorreu quando eu tinha 7 anos: estava na casa do meu avô paterno, todos os meus parentes estavam na sala conversando, eu estava indo para o banheiro, no fim do corredor, limpar minha boca que estava suja de sorvete quando meu avô me abordou e disse para eu lhe dar um beijo. Eu disse que minha boca estava suja e que só iria lavá-la primeiro. Então ele segurou meu rosto e disse que ele limparia a minha boca e tentou me beijar imobilizando meu rosto.
Enquanto eu tentava virar meu rosto, minha mãe apareceu e me puxou. Me levou pro quarto e disse que era pra eu me afastar do meu avô, que não era pra eu abraçá-lo ou me sentar no seu colo mais e o mesmo valia para os meus primos. Ela estava muito nervosa com a situação, disse que estava com vontade de ir lá e bater nele... Meu pai entrou no quarto, ela relatou o ocorrido pra ele e meu pai não disse nada. Meus pais não tocaram nesse assunto nunca mais. Eu me afastei muito do meu avô, mal o cumprimentava, pois se eu desse um abraço nele, minha mãe me repreendia (a atitude dela era completamente compreensível).
O tempo passou e toda vez que eu ia falar algo com meu avô, ele dizia coisas do tipo: "você está muito gostosa" ou "me arrumei todo pra você hoje", e ele não tinha receio de dizer essas coisas perto de outras pessoas, então evitava ao máximo ficar perto dele. Minha mãe, depois, começou a me dizer que eu devia me relacionar melhor com meu avô, pois ele me dava um presente e eu mal dizia obrigada, etc... Nessa época eu já tinha uns 12 anos, provavelmente ela nem se lembrava mais do que havia ocorrido e pensou que estivesse tudo "normal".
Mas qualquer coisa que eu ia conversar com meu avô agia como se estivesse me "paquerando", então evitava ao máximo falar qualquer coisa com ele, pois era muito constrangedor e alguém podia ouvi-lo dizendo isso (eu tinha muita vergonha). Meu avô morreu quando eu tinha 13 anos, e foi isso.
Minha relação com os meus primos também piorou bastante depois que minha mãe pediu para eu não abraçá-los mais ou sentar no colo de nenhum deles, pois eu não sabia o que eu podia ou não fazer. Todos os meus primos são 10 anos mais velhos que eu mais ou menos, eles sempre brincavam comigo e com meus irmãos, mas depois disso me distanciei muito, só os cumprimentava, sempre rejeitava qualquer programa com eles, como quando eles se ofereciam para ir conosco no parquinho e esse tipo de coisa. Eu sempre fui tímida, então isso só dificultou ainda mais a minha relação com eles, isso foi o que mais me magoou, porque gostava muito dos meus primos.
Eu sei que isso deve estar parecendo uma coisa ridícula e sem sentido para você, quer dizer "não precisava disso tudo, já se passaram 11 anos afinal, claro que eu podia me relacionar bem com meus primos a essa altura do campeonato". Concordo, mas eu simplesmente não conseguia. Somente ano passado que voltei a conversar com eles mais abertamente e "agir normalmente".
E tem outra coisa, que provavelmente não tem nada a ver com isso, mas talvez tenha, enfim... Até os meus 17 anos, eu dizia “não” pra qualquer menino que me pedisse em namoro (essas paquerinhas bobas de colégio) ou que tentasse me beijar, por mais que eu quisesse. Eu beijei pela primeira vez esse ano (com 17 anos) e foi em uma boate, porque tinha bebido um pouco... até hoje não "fiquei" com ninguém a não ser em boates (onde não conheço a pessoa e sequer sei seu nome). E até hoje eu mal consigo conversar com homens normalmente...
Bem, agora vem a parte "mais nada a ver de todas". Eu comecei a me masturbar aos 13 anos mais ou menos, e lendo contos eróticos, ou de estupro ou de sadomasoquismo, são esses os temas que me excitam, não sei por quê. Obviamente, ainda sou virgem... Eu não queria gostar dessas coisas, realmente não queria, mas eu gosto, e isso me incomoda muito.
O que mais me incomoda é o fato de eu gostar de sadomasoquismo, o fato de me excitar quando me imagino sendo humilhada e estuprada por algum homem. Não me entenda mal, é óbvio que eu não quero ser estuprada e não desejo isso a ninguém, pois é completamente diferente se imaginar na situação do que estar nela. Mas eu me sinto suja e ridícula por gostar disso, eu não sei o que fazer. E, além disso, já sonhei algumas vezes que estava fazendo sexo com meu irmão e com meu pai. Eu não sei porque isso acontece comigo, provavelmente você também não saberá... Mas eu nunca falei sobre isso com ninguém, pois eu não entenderia se alguém que estivesse no meu lugar viesse relatar isso a mim, por isso não espero que ninguém me entenda, já que eu mesma acho tudo isso um absurdo.
Minha cara Lola,
Que bagunça essa cabecinha, hein? Mas nada anormal, relaxe... só precisa encaixar as peças e assim conseguir enxergar melhor o quadro que está pintando em sua vida. Lembre-se de que tem apenas 18 anos e esses são os melhores piores anos da nossa vida. Tudo é uma zona e costumamos ficar sem nenhuma referência para nessa passagem da adolescência para a “vida adulta”. Somos cobrados como adultos mas ainda temos a cabeça adolescida. É foda, minha cara, mas tudo sempre se encaixa.
Teu principal dilema aqui são suas fantasias. Mas não é pra se assombrar com isso. Nada do que imagina te faz uma pervertida ou uma monstra. Leve em consideração tudo o que passou e verá que é mais fácil do que imagina entender esse caralho todo. Pensa: você foi reprimida em um ato causado por um homem da família justamente numa época onde você buscava reforçar as imagens masculinas da sua vida. Foi educada para reprimir isso, pois era errado. Ao dizer que era pra você se afastar do seu avô e primos por conta do beijo que ele queria dar, sua mãe meio que programou seu comportamento para não aceitar nenhum tipo de carinho de nenhum homem da sua família. Suas referências masculinas foram represadas e automaticamente ligadas a algo proibido.
Pois bem: chega sua adolescência e o que mais queremos fazer quando adolescentes? Questionar o mundo, seus conceitos e seus “chefes”. No caso, seus chefes eram seus pais. Como cresceu sabendo que os “carinhos” de seu avô eram proibidos, você passou a recorrer a esse tipo de imaginação para afrontar seus pais. Mas isso passou para seu pai e seu irmão, pois eram imagens masculinas das quais recebia carinhos também. Os carinhos deles sempre foram fraternos e inocentes, mas na sua cabeça estava atrelada aquela proibição imposta por sua mãe.
Lembre-se de que tinha apenas 7 anos, sem nenhum discernimento sexual, e isso te causou um certo colapso. As investidas dele foram causando ainda mais confusão, a ponto de você também achar que os carinhos de seu pai talvez devessem ser repelidos.
Tudo isso pode ser uma fuga do seu inconsciente para conseguir saciar a vontade de confrontar as figuras de liderança ao seu redor. Ao mesmo tempo, seu avô tinha essa liderança hierárquica sobre você e te imobilizou para tentar te beijar. Pode ser que isso tenha criado um padrão em você. Não é errado, apenas precisa conseguir focar seu desejo em outras figuras masculinas: um professor, por exemplo, pode ser uma excelente fantasia nessa hora e te ajudar a dissociar o desejo.
Quanto aos seus relacionamentos, isso tudo é natural da idade. Fica com pessoas em boates, pois o ambiente e o álcool desinibem. Como só beijou aos 17, não tem muitos parâmetros para definir se isso é um padrão de comportamento ou não. Ainda tem 18 anos, é tudo muito recente e diferente. Relaxa, respire e comece a se relacionar com outras pessoas fora dos ambientes “seguros” para você, como a boate, por exemplo. Tente conversar com o pessoal em outros lugares, menos agitados, onde prevaleça a conversa e a descoberta do outro. A internet pode ajudar pra caralho nisso, viu?
Sobre o sadomasoquismo, você está apenas projetando seu prazer e desejo em um ambiente estranhamente “conhecido” por você. Mas isso é apenas na cabeça: a situação sádica ou masoquista, em si, não te traria nenhum prazer. E quase todo mundo tem essas fantasias, viu? Não que exista a pretensão de acontecer, mas um lance mais vigoroso e imediato tende a despertar a libido. É natural, apenas aprenda a dissociar isso de seu pai e irmão. Isso não será saudável pra sua vida sexual, que fatalmente logo começará.
O que pode fazer? Mudar o foco, os personagens das fantasias e os ambientes. Ao invés de se ver com seu pai numa cena de estupro, se veja com um cantor ou ator em um banheiro de boate num sexo imediato que dura 5 minutos. Substitua as fantasias, condicione o corpo a aceitar outras imagens.
Respire, reflita... não se sinta suja por isso. Não se sinta culpada pelas fantasias, tampouco pelo que te aconteceu no lance do seu avô. Apenas se sinta no dever de aprender outras formas de prazer. Deixe o “sexo com culpa” para seus futuros ex-namorados cafajestes. Aí, sim, terá muita culpa ao transar com eles durante uma recaída. E ainda assim, terá menos problema com isso ao dormir. Bom, nem tanto, mas será bem diferente.
4 comentários:
Penso exatamente como o Felipe, Lola... Essa fase é muito difícil por si só! Vc ainda é nova e inexperiente sexualmente, fantasiar é bom, mas se algo está te incomodando, mude a cena. Não se culpe! Afinal, nem todos tem coragem de contar suas fantasias mais íntimas, então nem sabemos se os sadomasoquistas são maioria ou seja lá qual for a preferência! Seja somente você e se ainda assim achar que quer ser diferente, mude por você e por mais ninguém! Boa sorte!!!
é... sexo é bom... também gosto muito mas não é bem assim.
Não gosto da ideia desse assedio e disso tudo ai de velho com criança...
Quando eu tinha seis anos um amigo do meu pai me colocou no colo dele e quis me bejiar na boca, dar selinho.. eu comecei a gritar o meu pai e pedi pra ir embora de perto dele na hora.... E SÓ não contei pro meu pai porque eu não entendia o que era aquilo.... Só sabia e sei que NUNCA mais fiquei perto dele que NUNCA mais pediu pra me levar pra passear.... FODA né.... e isso foi em meados de 74, sei lá.... olha quanto filha da puta velho existe no mundo.... ;))
Anos mais tarde, um primo da minha mãe, velhão, tentou me dar selinho...
Imaginem quantos existiram e existem... E TODOS têm acesso livre na casa das vítimas... Sorte que tive discernimento pra começar a chamar pelo meu pai e pedir pra ir embora, como era casa vizinha.. ele TEVE que me entregar antes que eu fizesse escândalo...
FODA!
Uma duvida, Ogro, garotas virgens que se masturbam podem evitar os garotos porque se satisfazem sozinhas?
me identifiquei um pouco com a Lola, comecei a me masturbar com 13 anos também, a internet ensina tudo, sou muito curiosa com sexo, mas evitei o primeiro beijo durante muito tempo, só beijei na boca aos 20 anos, a minha mãe falava para eu não namorar e vivia me alertando de casos de violência e fazendo proibições do tipo não ter proximidade com meninos, acredito q isso criou em mim um sentimento de medo. Tenho medo de relações mais intimas. Quando o moço está me beijando com carinho eu me excito. Mas quando o beijo muda, fica mais agressivo com menos carinho, eu fico como se não quisesse está ali mais. Eu não consigo ficar com desconhecidos o que torna difícil minha vida, só consigo sentir vontade de beijar depois de uma conversa, quando algum carinha em festa tenta me beijar sem conversar antes eu entro em desespero, corro dele mesmo se eu tiver paquerado com ele antes! Faço terapia, para ajudar. Melhorei um pouco.
Fico cada vez mais assustada e indignada a cada história que ouço, como as meninas andam desprotegidas em suas próprias famílias.
Dá nojo essa coisa de velhos doentes se aproximando de mocinhas e, pior, crianças.
Agora que sua cabeça foi "entortada" por quem deveria te proteger e mimar, o jeito é seguir caminho tentando mudar o foco, como disse o Felipe...
Transformar tudo isso que você viveu em uma vida sexual saudável. Fantasie muito e tente substituir essas imagens e esses personagens. Tu tem muito pra viver ainda, se permita e se faça saudável. Você consegue.
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