Querido Ogro:
Essa história é bem complicada, mas vou tentar te contar da melhor forma possível: tenho 21 anos e, quando tinha 10, minha mãe ficou doente e com isso veio à tona histórias há muito escondidas. Uma delas é que meu pai havia violentado minha irmã, que é quatro anos mais velha que eu. Na época do acontecido, todos a culparam porque ele tinha um monte de meninas em casa e só com ela ele quis isso. O fato é que eu não entendia muito bem o que era, meu pai nunca fez nada comigo, então sempre tive uma boa imagem dele, boas lembranças!
Enfim: minha mãe veio a falecer, nos mudamos de cidade e deixamos o meu pai lá... Aí começa minha historia: fui morar com uma Irmã que já era casada. Essa minha irmã não me via desde bebê, nunca tivemos contato, mas fui obrigada a morar na casa dela. Quando cheguei lá foi muito estranho, pois ela sempre me culpava por coisas que eu não fazia e quem fazia eram os filhos dela. Falava que as roupas que colocava era pra provocar e se meu cunhado olhasse pra minha bunda a culpa era minha! Eu tinha 10 anos quando tudo isso começou, não me via dessa forma querendo provocar um homem, nem pensava nisso. Mas pra ela eu fazia de propósito.
O fato é que minha relação com ela era uma merda mesmo, brigávamos o tempo todo por isso e outras coisas: eu tinha que fazer serviços domésticos e a filha dela, que era da mesma idade que eu, não fazia nada. Eu me sentia triste, sozinha...
Só que alguns meses depois - pra ser sincera nem me lembro em quanto tempo isso começou a acontecer - meu cunhado começou a me molestar. Acho que foi só isso, porque nós nunca tivemos sexo de verdade, ele só passava a mão em mim sempre que podia. No começo eu ficava parada, não entendia direito, mas ele falava que era porque eu era bonita e que não tinha nada de errado. Eu sabia que era errado, mas não falava porque pensava que se eu contasse iria morar na rua e eu lembrava da história da minha irmã, que foi vista como culpada e não foi socorrida...
O tempo foi passando, ele continuava a fazer, mas ia alterando, me masturbava, tentava me beijar, mas eu tinha nojo de beijá-lo, nem sei porque permitia que ele me tocasse. A situação continuava, ele sempre me falava que ele só ia transar comigo quando eu quisesse, coisa que eu nunca quis e acho que por isso nunca aconteceu.
Depois de um tempo assim, eu comecei a gostar, a sentir prazer, sentia ciúmes dele com minha irmã, meio que o provocava, ele começou a me dar dinheiro, me agradava de todas as formas, eu me sentia tão culpada por isso, achava que era uma vagabunda, mas continuava a fazer isso... Uma noite, enquanto todos dormiam, ele veio ate minha cama e fez sexo oral em mim. Aquilo foi o pior: eu me senti suja e sentia prazer de alguma forma!
Eu sai de lá com quase 12 anos e até sair foi sempre assim. Me sinto culpada até hoje, não tenho mais contato com ele, mas vi minha irmã recentemente, o que fez relembrar tudo novamente. Nunca contei pra ninguém e ainda me lembro de tudo perfeitamente. O fato é que acho que fui culpada mesmo porque eu gostava, às vezes eu lembro dele quando estou em alguma situação erótica, como se eu gostasse.
Queria poder apagar tudo isso, vejo o drama da minha irmã com tudo o que ela passou, me sinto tão mal, não quero pensar nele como se fosse uma lembrança boa porque não é!
Bom, querido Ogro, não sei se pode me esclarecer... De alguma forma, queria saber se isso é normal, esses sentimentos que tenho! Hoje eu namoro, não sou louca por sexo, até gosto de fazer, mas às vezes me sinto estranha porque muitas vezes me lembro dele. Eu sou bem de boa, nunca sai com um monte de caras, namoro há bastante tempo, amo meu namorado, estudo, tenho meus planos para o futuro e tento ir em frente!
Bom, termino agradecendo desde já e tentando me achar normal.
Minha cara inocente,
Calma que nada disso que sente é anormal. A maioria das vítimas de um abuso passa por esse processo de culpa. O fato de você se sentir culpada por ter “gostado” não tira a atrocidade do que foi feito... nem a transforma em um alguém conivente.
Já usei esse exemplo aqui, mas se encaixa perfeitamente no seu caso: se você pegar uma criança de 10 anos e der um copo de pinga pra ela beber, o que acontece? Ela vai ter nojo, não vai querer, vai achar ruim. Mas se você enfiar a pinga garganta abaixo dela, o que acontecerá? Ela ficará bêbada, não? Independente de gostar ou não, de querer ou não, fisicamente o álcool irá agir. E se continuar assim, por semanas e meses, ela pode até deixar de sentir tanto nojo, já que o efeito será “gostoso”.
O mesmo aconteceu com você. Teu cunhado te forçava a algo errado, você sabia e sentia que era errado, mas fisicamente isso te trouxe alguma coisa. Ainda mais em uma mulher, cujo clitóris existe apenas para isso, apenas para o prazer. Criança sente falta e precisa de carinho, de contato físico fraterno que acolha... E, com o tempo, de alguma forma, você foi projetando nele essa falta de carinho que sentia, a ponto de sentir ciúmes da sua irmã. Nunca sentiu ciúme de uma amiga por ela brincar com outra amiga sem você? Grosso modo, é quase o mesmo...
Pense: estava sem seu pai, uma figura masculina que te agradava, e o perdeu por conta justamente de um ato cruel dele mesmo para com sua irmã. Você estava sem referência masculina e, ao mesmo tempo, a única que tinha era igual a do seu pai: um monstro que tentava se aproveitar da inocência e ingenuidade de uma criança. Seu cunhado e seu pai são parecidos e isso te deixou muito confusa.
Pode ser que, inconsciente, você tenha se projetado na sua irmã e se visto passando pelo mesmo que ela e, assim, estaria a entendendo pelo que ela passou. Você ficou impressionada com a história, tanto é que teve medo de ser vista como ela, uma culpada e condenada pelos outros. Às vezes nos sabotamos para tentar entender como o outro se sente... ainda mais se esse outro era alguém tão próximo.
Muitas mulheres passam por esse período e é um dos piores. Todo toque lembra aquele toque, até que só se lembrando dele será possível conseguir algum prazer. Porque é um primeiro parâmetro de prazer sexual que terá. Acaba sendo meio irracional, até, já que as reações físicas independem da razão. Mas há como se ver livre dessa amordaça...
O que precisa fazer é tomar as rédeas do seu tesão, voltar a ser dona dele. Ter plena consciência de que, mesmo tendo “gostado”, o erro foi dele e não seu. Nada que você pudesse ter feito justificaria isso. Deixe de sentir raiva de você e passe a odiar um pouco esse idiota. E a melhor forma disso é você conseguir esquecê-lo fisicamente. Mate-o dentro de ti um pouco.
Aproveite que tem um namorado que te faz bem, pegue-o como exemplo de homem para você e transforme seu tio em uma exceção na sua vida. Uma exceção errada e que merece ficar lá atrás, no passado. Se na hora a imagem dele vier à mente, recorra a outras coisas que goste: um ator que ache bonito, um cantor que te dê arrepios... Busque fantasiar com outros homens e verá que seu tesão é seu e não dele nem de ninguém.
Seria interessante se você procurasse alguma ajuda profissional pra te ajudar nesse desapego. Nada de remédios, uma boa dose de conversas sem medo e sem amarras. Não se ache uma louca ou problemática por buscar ajuda profissional. Não há culpa, apenas culpados... nesse caso, apenas UM culpado. E esse um não é você.
Já conviveu com isso tempo demais aí dentro, tira um pouco e alivia o peso, vai?
3 comentários:
Acho que o Felipe foi muito feliz num ponto central do que escreveu, que foi quando disse que o tesão é seu e não do outro.
De fato, ele é seu. E não há porque sentir culpa numa situação onde o normal é ser estimulada e sentir prazer.
Eu também fui molestada e vivi exatamente o que você está relatando.
Um misto de nojo e culpa.
Mas, com processo terapeutico - o que recomendo muito - fui aprendendo que a função da culpa na nossa vida é fazer com que possamos rever posturas e sentimentos que temos em relação a alguma situação.
É como se fosse um aviso da vida pra revermos o conceito.
E o conceito está em torno da necessidade de vivermos o agora.
O que passou, passou.
É claro que você não vai deletar tudo. Mas vai aprender a viver APESAR de tudo.
Boa sorte e força!
Cara Inocente, culpa de que aos 12 anos? De ter tido referencias erradas, exemplos péssimos? Seu pai, sua irmã...seu passado explica seu presente. O Felipe tem razão e tudo, especialmente em pensar que voce precisa de ajuda profissional, ajuda e muito. Eu estava a um passo de procurar por terapia quando encontrei nosso Ogro, funcionou para mim ouvir e seguir os conselhos dele. Nunca é tarde para se buscar ajuda, ajuda para que se possa viver os prazeres da vida sem culpa.
Querido Ogro.Aconteceu comigo algo semelhante.Hoje tenho 35 anos ,sou casada tenho filhos.
Começou quando eu tinha 8 pra 9 anos.Meus pais eram alcolatras,minha família bastante resumida,nenhum sinal de carinho ou cuidado.Eramos largados .Minha irmã mais velha tinha um namorado,eu gostava muito dele.eles se casaram e ele teve mais liberdade em minha casa,nas visitas sempre que ficava sozinho comigo ,passava a mão em minhas partes íntimas,eu sabia que éra errado ,mas não conseguia contar.Na casa da gente crianças não podia falar, não tinha vez.Os adultos estavam sempre brigando,se chingava.mas as crianças se falava um pouco mais auto já era calado com ameaças e as vezes agressão.Infelizmente eu aceitei as carícias do meu cunhado como se foce carinho,pensava ser importante porque ele só fazia carinho em mim.Mas as coisas ficaram piores ,quando minha irmã ganhou gêmeas,meus pais me mandaram morar com ela pra ajudar c as crianças.ei já tinha 13 anos,já entendia o que era carinho e o que era safadeza.Ja me afastava do meu cunhado quando ele nos fazia vizitas.as como eu faria isso morando na casa dele?não consegui contar pra meus pais e fui morar com minha irmã.Logo no começo ,eu já percebi meu cunhado me olhando pela janela do banheiro,as vezes eu saia até ensaboada ,seca rápido e me vestia.Eu fazia os serviços domésticos,ele se aproveitava quando minha irmã estava em outro cômodo,e me agarrava por traz,mechia em meu seios,em meu bumbum etc...Eu fugia,chamava por ela,mas tinha medo de contar,ele confessou me chingar de palavrões,e me insultar na frente dos amigos e familiares dele.Pois ele notou que eu não deixaria ele fazer oq qria.O pior é que minha irmã não fazia nada,poxa tinha coisas que éra muito absurda,tipo ele saia de tolha do banheiro e me abraçava,me agarrava por traz,tinha um ciúme doentiu ,não gostava nem que eu uzase batom.como éla não percebia?isso me prejudicou muito,não conseguia me consentrar na escola,passava noites claro.e mesmo assim ela não notava.As vezes ela me pedia pra ir com ele em algum lugar,no carro ele rodiava um cemitério e falava que ali era muito fácil sumir alguém,e nunca que procuraram ali.eu tinha muito medo dele me matar e jogar naquele lugar.Teve uma vez que ele perguntou se eu sabia beijar ,eu disse que não ele,me puxou e falou que me ensinará me beijou e apertou meus seios,eu empurrei e corri chorando.Mibha irmã chegou ele inventou uma mentira pra éla,disse q me pegou com um vizinho,ela acreditou e me levou de volta pra casa dos meus pais.tentei contar mas ela não quis me ouvir.Pior que ele continuou com as mentiras anos seguidos,é muito difícil terque encontrar com ele,ele destruiu minha adolescência,não tive amigos,não tive relacionamento duráveis, tenho muita dificuldade em acreditar nas pessoas.Eu contei depois de alguns anos pra todos ,nas ninguém acreditou,disse que com minhas irmãs ele não fez nada,porque fez apenas comigo?Eu não sei porque,só sei que fez .queria que ele pagace por isso,ele me pediu perdão mas eu não perdoo,só perdoaria se ele contacte pra todos oque fez e que se arrependeu.caso ao contrário não perdoo ,e não confio deixar meus filhos perto dele.Obrigado por espaço ,para este desabafo,aceito conselhos que ajudem tirar essa angústia de mim.
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