Querido Ogro,
Acho que é sensato, antes de qualquer coisa, te contar como achei teu blog: foi pesquisando no Google as palavras "eu odeio minha buceta pedofilia". Pronto, é isso mesmo, sem muitas firulas. Agora eu vou tentar estruturar o que me levou a querer escrever pro teu blog.
Sou a filha mais velha de um casal que sempre foi muito trabalhador. Minha mãe nunca foi do tipo que lavava, cozinhava e cuidava da casa, e por isso ela sempre dependeu de diaristas e empregadas mensais em casa. Justo na época em que eu crescia e começava a formar minhas concepções acerca dos relacionamentos humanos, minha mãe se encontrava submersa em uma profunda depressão, vítima do espírito controlador do meu pai. Não é que ele seja uma má pessoa - não é - mas se a gente se recolhe e deixa que ele tome conta da situação, ele nos afoga em suas vontades. E minha mãe, por ter um passado difícil, por ter crescido sem pai, sem referencial do que seria uma relação saudável entre um homem e uma mulher, vivia recolhida em si. Era frustrante, e eu a ODIAVA por isso. Entenda, eu nunca pude conversar com ela sobre sexo ou sobre namoros, e gostar de alguém.
Na verdade, eu descobri o sexo através de uma das empregadas que trabalhou pra gente. Ela tinha um relacionamento completamente perturbado com o porteiro do prédio em que morávamos, e, um dia, eu os flagrei em casa (devia ter por volta dos nove anos). O cara fez a cabeça dela pra me envolver nos jogos sexuais dos dois, e foi assim que me tornei um brinquedo sexual deles, por assim dizer. Não consigo recordar com clareza por quanto tempo ele "me usaram". As memórias desses tempos nunca me surgem claras ou em ordem cronológica. Creio ter sofrido o que os terapeutas chamam de dissociação. Recordo-me de momentos, isolados, mas não consigo ordená-los ou situá-los no tempo. Não posso dizer que sofri um estupro, porque entendo que para isso teria sido necessária ocorrer a penetração, certo? No começo, eles me obrigavam apenas a assistir enquanto faziam sexo na cama dos meus pais, ou na minha cama. Depois de um tempo, ela me obrigava a ficar por perto enquanto eles transavam e ele acariciava minha bunda. Daí pra tentar comer o cu, foi um passo. É sério, esse deve ter sido o dia mais estranho da minha vida, porque eu não sabia o que era aquilo, o que tava acontecendo. Ele me virou de quatro sobre a minha cama, e disse que ia me comer, acho que pôs uma camisinha e sem dó tentou forçar tudo pra dentro, só que eu gritei e ela impediu que ele continuasse - agora entendo que é porque alguém da minha família com certeza notaria e suspeitaria logo dela, que era minha babá. Uma vez ele me forçou a chupar o pau dele, eu lembro do gosto até hoje, era horrível.
Eu lembro do rosto dele, de como ele me olhava e de como eu me sentia tão pequena e suja, lembro de como ele costumava me chupar ou de como me fazia tomar nas coxas e gozava em mim depois. Eu não sei porque nunca fiz nada, ou porque nunca contei pros meus pais. Foi mais ou menos nessa época também que eu comecei a me masturbar, e isso só piorava as coisas, porque, se por um lado eu gostava das sensações físicas que sentia, por outro era extremamente errado que eu experimentasse aquilo (era como eu me sentia). Lembro que um dia escrevi no meu diário algo como "sou uma pessoa má, sou uma pessoa má por foder com o Xxxxxxxx". Foder. Que criança de 9/10 anos de idade é obrigada a saber o peso dessa palavra desde cedo? Foder é diferente de fazer amor, é diferente de sexo, é diferente de transar. Foder é mais pesado, é mais agressivo, foder não me parece adequado no vocabulário de uma menina de 10 anos. Não que seja errado que ela use essa palavra, mas porque é uma coisa muito além as compreensão de uma criança.
A pior parte é que eu sentia prazer quando ele me chupava. E por muitos e muitos anos depois disso eu sentia que era minha culpa gostar disso, que eu não tinha esse direito e que eu era uma pessoa má, suja, errada, incapaz de ser pura, boa, benevolente ou de um dia merecer o amor sincero de um cara.
Ah, detalhe, além de tudo isso, os dois ainda praticavam uma espécie de tortura psicológica comigo. O cara dizia que um dia comeria a minha mãe - e dava a entender que poderia fazer isso a força, se fosse preciso. E que tiraria meu "cabaço"(virgindade), como ele dizia em sua violência. E ela gostava de dizer que meu pai usava drogas, que ele dava em cima das moças que trabalhavam em casa, que ele tinha um filho fora do casamento… Uma vez meu pai percebeu minha tristeza e pediu pra conversar comigo a sós, e ela disse que eu seu contasse pra ele o que tava acontecendo, ele faria a mesma coisa comigo. Meu pai queria me ajudar e ela me fez ter medo dele… Quando fui crescendo, fui percebendo melhor o que eles faziam comigo e decidi que não queria mais que isso acontecesse. Foi quando eu comecei a reagir. Se ela deixava ele entrar em casa e ele vinha pra cima de mim, eu gritava ou jogava almofadas nele. EU NÃO AGUENTAVA MAIS.
Um dia, não sei o que a moça fez de errado em casa, mas ela foi despedida. Aí eu já me sentia segura em casa. Mas não saia de lá. Não brincava com outras meninas do prédio, não gostava de ter que ir comprar pão na esquina. Ele sempre dava um jeito de me encontrar pelos corredores e me abraçar ou tentar me beijar. Sempre que eu tinha que sair de casa, e estava sozinha, eu corria pelo prédio, com medo. Só contei pra alguém da família o que tinha acontecido quando tinha por volta dos 12/13 anos. Foi pra minha tia (que também é minha madrinha), e ela que pediu minha permissão pra contar sobre isso pros meus pais. Eu lembro que a minha mãe me apertou como não fazia antes, me abraçou bem apertado, e ela não conseguia falar nada e chorava muito, muito mesmo. Aquele choro sofrido, que sai bem de dentro da gente e parece que machuca mais do que a dor em si, você sabe como é? Eu me senti muito obrigada a ser forte, fingir que não era nada e que eu tava bem, porque ela não tava, e isso era claro pra mim, sabe? Meu pai ficou muito mal também, ele queria machucar aquele cara fisicamente (e só recentemente minha mãe me contou que naquela noite eles chamaram um irmão do meu pai pra fazer companhia pra ele, porque meu pai realmente queria acabar com o cara que tinha feito aquilo comigo sabe). Eu nunca, em toda a minha vida, tinha visto meu pai chorar.
Até os meus dezessete anos de idade eu vivi uma farsa. Tirava boas notas, tinha amigos, mas era retraída. Fiz terapia dos 12 aos 15, mas não aprendi nada ali, porque eu fingia estar bem e não contava meus medos e traumas pra ninguém, nem pra minha psicóloga. Eu tinha que ser forte. E eu tinha muito medo de não conseguir. Não me aproximava de garotos, e vivia num mundo completamente irreal, minha criação. Gostava de imaginar que a minha pele era bem branca e eu era loira e delicada. Chegava a me apaixonar platonicamente por pessoas (do meu convívio ou até atores famosos). Uma vez cheguei a acreditar, de verdade, que eu era mais velha e namorava/era casada com um ator de cinema. Eu sei que isso parece completamente estúpido, mas quando eu refleti sobre isso, alguns anos mais tarde, e percebi o quanto minha cabeça tava FODIDA foi que eu notei como estive perto, talvez, da real loucura. Minha avó é esquizofrênica, aliás. Ela sempre estava na casa quando essas coisas aconteciam, mas meus pais me disseram que, se a gente levasse o caso à justiça, ela não poderia ser uma testemunha por causa da condição de saúde dela :/
Quando me interessava por garotos, não conseguia me aproximar deles de jeito nenhum, e nunca fui alvo de cantadas. Eu era a amiga feia do grupo, sabe? Eu me sentia extremamente feia, e eu achava que por ter manchas no corpo, por ser gordinha, por ter a sobrancelha grossa, enfim, por não ser a típica menininha delicada, eu não merecia o amor/atenção/afeto de ninguém da minha idade. Eu sentia que só merecia a atenção de caras mais velhos e nojentos, como o cara que abusou de mim. Eu não conseguia andar na rua sozinha, nem dirigir a palavra a pessoas que não faziam parte da minha zona de conforto. Acho que perdi muita coisa nesse tempo. Meu primeiro beijo foi aos quinze anos. Minha primeira relação sexual foi aos 20 (no final de 2012).
No ano do convênio minha farsa começou a ruir. Era o ano em que as pessoas começavam a decidir o que queriam pro resto de suas vidas, e se eu só vivia em um mundo de faz de contas e evitava mergulhar em mim, como saber quem eu era ou o que queria? Voltei a ficar retraída, ia pra aula mas não prestava atenção em nada e não conversava tanto com meus amigos, passava a aula inteira escrevendo coisas sobre minhas tristezas num diário. Também usava a internet como fuga, amigos virtuais e jogos de rpg tomavam meu tempo. Isso me trazia muitos problemas com meu pai, que não entendia porque eu era assim. Foi nesse ano que voltei à terapia com a mesma psicóloga que tinha me atendido antes. (E foi por volta dessa época que minha mãe finalmente começou a se respeitar como indivíduo e sair da bolha de submissão que ela vivia. Hoje em dia ela é minha melhor amiga, e é a pessoa que eu mais amo e respeito em todo o universo. Eu sinto tanta pena dela por ter perdido muito tempo da vida sem fazer as pazes consigo mesma :/)
Mais ou menos no final desse ano, no entanto, comecei a gostar muito de um amigo da minha turma, o I. Ele era um cara muito que me atraía por ser calado e um verdadeiro mistério. E eu achava que ele retribuía esse afeto, mas JAMAIS que teria a coragem de perguntar, e a gente ficava lá, dois bobos gostando um do outro sem dizer nada.
Entrei em duas faculdades em 2010, e continuava me sentindo triste e sem perspectiva. Tive que largar a terapia de novo, por conta do horário corrido - e também porque, sinceramente, tava de saco cheio dessa médica que nunca percebeu que eu fazia uma capa de firme, mas me encontrava completamente perdida em sentimentos ruins (tudo bem, até então nem eu sabia disso, mas não era esse o papel dela?). Por essa época comecei a largar a fantasia (mesmo que ela ainda existisse, na forma de um amor platônico por um colega da faculdade, ou pelo hábito de andar na rua tentando adivinhar/projetar pensamentos nas cabeças das pessoas que cruzavam meu caminho), e comecei a mergulhar em mim, de verdade, me conhecer melhor. Foi quando eu comecei a revisitar aquelas coisas que aconteceram na minha infância e que me magoavam tanto. Esse processo levou um tempo, e foi acompanhado de muito choro de dor na madrugada, que às vezes me impedia de dormir decentemente; de morder os braços e me arranhar; de dar socos no estômago embaixo do chuveiro; e a intensificação de uma coisa que eu já fazia desde a época da escola: arranhar e cutucar/estourar umas bolinhas que apareciam nas minhas costas, braços e pernas e que são decorrentes de um processo alérgico, genético. Tenho as manchas até hoje. Inclusive, essas mesmas manchas eram causa constante de sofrimento, porque eu achava que nenhum cara gostava de mim por essas coisas que estavam erradas e eram feias em mim, como as manchas no meu rosto e nos meus braços. Cheguei a ficar com mais um cara na época de escola, mas foi completamente broxante, evitava as ligações dele, e me sentia mal por ter ficado com ele. Acho que ele chegou a comentar que eu beijava mal (recalque, Ogro, eu sei), e isso me deixou paranoica e mais frustrada ainda.
Constantemente me comparava às minhas amigas, e as achava muito mais bonitas, legais, divertidas e interessantes do que eu. Eu queria ser como elas, ou melhor, queria ser qualquer outra pessoa, menos eu. Nesse meio tempo, o I. meu amigo legal que eu achava que gostava de mim, se mudou pra outra cidade, bem distante de onde eu morava. E um dia, no meio do ano passado, eu decidi que poderia me colocar em prova, contando pra ele que eu tinha gostado dele uma vez. E foi quando ele finalmente confessou que também gostava de mim, e como ele sempre vem pra cá nas férias, ficou meio que implícito que a gente ia tentar ficar juntos no final do ano. Isso me deixava tensa, ansiosa, e completamente nervosa. Foi nessa onda de me por a prova também, que eu acabei ficando com um amigo de infância, mas a experiência foi odiosa, não senti um pingo de tesão e acho que fui completamente seca e grossa ao dispensar o cara por sms na mesma noite.
Mais ou menos em outubro de 2011 eu finalmente contei TUDO pra minha mãe. Como eu me sentia, como eu tinha certeza de que jamais conseguiria ser feliz no mundo real, de que eu não era capaz de arranjar um emprego, de ter uma família, de como eu me sentia vazia, de como eu pensava em me matar quase todos os dias, de como eu sentia que vivia na iminência de uma coisa muito ruim acontecer comigo a qualquer instante. De como nada, absolutamente nada, me dava prazer - exceto a masturbação, mas eu continuava a me sentir vazia por fazer isso periodicamente. Aí a gente procurou ajuda médica, fizemos exames, e por volta de novembro ou dezembro eu comecei a tomar medicação antidepressiva.
Em dezembro, meu amigo I. veio pra cá de novo, e no primeiro dia que a gente se viu eu tomei a iniciativa de beijar ele, mas fiz isso por achar que eu podia, mas não por realmente querer. Ainda era estranho ficar com alguém, e eu tinha certeza de que não ia dar certo, e que eu não sabia como, nem conseguiria ficar com uma pessoa firme. Eu não sei te dizer o que ele tem, ou como funciona isso, mas eu tava enganada. A gente acabou ficando e ficando, e eu me sentia cada vez mais confortável com ele. Cheguei a contar por alto o que tinha acontecido comigo quando eu era menor, e a gente tava deitado na cama e ele me abraçou bem forte e deixou que eu chorasse no ombro dele, e isso teve um significado especial pra mim. Eu senti que naquele dia esse carinha quebrou uma barreira que tinha em mim e que me impedia de confiar nas pessoas e de me abrir emocionalmente. A gente não chegou a transar, mas eu redescobri meu corpo por causa dele, pela visão dele. Os peitos que antes eram muito grandes e feios e caídos, viraram peitos bonitos e macios. O corpo que antes era OBESO virou um corpo fofo, bom de apertar (e que eu aperto mesmo, porque eu gosto de me permitir brincar comigo mesma e me conhecer a fundo). Mas eu não superei minha buceta. Eu acho minha buceta completamente feia, e já fiz muita pesquisa de fotos na internet só pra me torturar, e eu juro que isso às vezes me faz chorar o mesmo choro sofrido que eu já comentei antes; eu chego no ponto de realmente sofrer por causa disso.
Ainda assim, acho que tô num momento bom, o melhor momento que já estive desde meus 8 anos de idade. Eu nunca mais fui feliz de verdade depois disso, mas agora to tentando ser a todo o custo. E eu quero gostar de mim por inteira. Às vezes tenho recaídas assombrosas, me dá vontade de mandar todo mundo que tá perto de mim ir se foder, me dá vontade de ficar dias sem tomar banho, de não sair de casa, de não comer, de dormir o dia todo. Mas o remédio me ajuda muito. Continuo sem sair pras festas com meus amigos, mas acho que nesse semestre vou me concentrar em tentar sair e relaxar de verdade.
A questão é, como é que eu posso fazer pra gostar da minha vagina? Às vezes tenho vontade de ligar pro I. e contar isso, mas entenda, é muito estranho dizer isso para um cara ( a menos que ele seja um Ogro da internet, acho que esse tipo de cara não se incomoda com isso). Eu sou extremamente bem resolvida no que tange as questões sexuais, tenho vontade de fazer de tudo, e me sinto bem com isso. Não acho que seja vulgar, sujo ou sórdido. Descobri o sexo como a expressão do ser, como o momento em que você entra em contato com o que há de mais íntimo e interior no seu corpo - é quase xamânico; quase espiritualizado, de tão carnal e visceral que é. A questão é que eu adoraria que o I. me chupasse, mas não posso deixar que ele faça isso enquanto eu considerar minha vagina feia e repugnante.
Você entende como o nó é bem amarrado? O sexo oral era exatamente a única coisa que eu apreciava nas "relações" com aquele cara anos e anos atrás, e agora é a única barreira que eu não consigo me permitir vencer. E eu me sinto muito frustrada porque, ao contrário de alguma pessoas, eu sei disso, eu conheço o problema, mas não consigo encontrar um meio prara resolvê-lo. E, enquanto isso, ele me frustra e me machuca. Ah, eu também tenho mania de me sentir culpada por tudo que acontece. Mesmo quando é meu direito ficar chateada, eu me sinto culpada por ficar. Se brigo com alguém, e essa pessoa fica triste, eu me sinto culpada também :/
É a primeira vez que eu faço um apanhado geral dessa minha curta história de vida em forma de texto, a primeira vez que crio um registro dos meus problemas. Acho que só de escrever as coisas já ficaram mais claras. Vou te enviar a carta de qualquer forma, porque pode ser até que esse relato ajude alguma outra pessoa a tentar se conhecer melhor, e dividir a dor. Dor dividida é dor diminuída, Ogro. E eu te agradeço de antemão por ser o alvo da divisão da minha dor dessa noite.
Enquanto escrevia essa carta, lembrei de coisas, chorei, sofri, mas lembrei também que eu sou forte, muito forte, e uma pessoa boa de verdade. E isso, essa redenção que eu venho me proporcionando desde o ano passado, não tem preço. Essa é a melhor coisa que eu posso fazer por mim.
Obrigada.
Minha cara revoltada da buceta;
Lembro que li, sim, seu e-mail, e até achei que tivesse respondido, mas vi que não o fiz. Peço desculpas por isso... é que são muitos e-mails que me chegam e há muito tempo ando bem bagunçado emocionalmente – mais do que eu esperava. Assim acabo protelando respostas e isso só me deixa pior porque deixo pessoas esperando por respostas às suas dúvidas. E não há nada mais angustiante do que não ter respostas para as coisas que nos fazem muito mal e nos tomam boa parte do nosso tempo.
Depois de ler sua carta- enorme, diga-se de passagem -, vejo que você tenta estruturar muito bem as situações que lhe aconteceram, como se tudo precisasse de uma contextualização pra ser compreendida. Isso demonstra que você já buscou resposta para tudo o que aconteceu e não chegou a nenhum consenso consigo mesma.
O que te aconteceu com sua babá é uma atrocidade. E não veja isso como merecimento. Tampouco se veja como traumatizada. Algo horrível e hediondo aconteceu com você sem que você tivesse culpa por isso. Mesmo que tenha se masturbado ou tentado algo disso na época: você estava apenas repetindo algo que fisicamente era agradável, mas quando você fazia, era menos perturbador ou sujo.
Pegue uma criança hoje de 10 anos. Acarinhe sua cabeça com as unhas. Ela vai gostar, vai relaxar, fisicamente isso trará uma sensação gostosa pra ela, dará prazer a ela. E se ela gostar, o que a impede de repetir? Ou fazer com algum amigo? O que muda nisso é a postura com que fizeram um "carinho" em você: foi com malícia, com crueldade e com muita doentia de mentes extremamente monstruosas.
Realmente espero que entenda essa analogia. Não estou diminuindo o que te aconteceu, estou tentando te isentar de alguma culpa por sentir prazer em algo que sim, é prazeroso, já que a mulher possui uma parte do corpo especificamente pra isso, mas que foi errado por ser tão precoce e com alguém totalmente ingênua e inocente. Se eles tivesse te dado bebida e você ficasse bêbada, seria sua culpa? E se você depois quisesse beber mais pra sentir aquela sensação de novo, seria sua culpa? Não! É físico, é algo que está no sangue e nas terminações nervosas. O erro está em quem te apresentou esse carrossel de emoções antes de estar preparada para compreender. Você só era uma criança, não a culpe por isso... Você não era uma puta simplesmente porque não tinha cabeça, corpo e alma pra ser uma... Nem sabia o que era isso!
E outra: eles te assediavam psicologicamente, te deixando com medo, em um ambiente totalmente inseguro pra você ter voz ativa de alguma forma. Tanto é que quando seus pais souberam, você acabou tomando uma postura mais segura pra "confortá-los" na sua concepção do que seria mais confortável. Sua tentativa de fingir que estava tudo bem era uma maneira de deixar a sujeira embaixo do tapete e não ter de lidar com ela. Seja na hora em que souberam, seja na terapia que fez.
Mas assim: achar que esteve perto da loucura porque projetava paixões em atores e\ou pessoas próximas é demais. Quem nunca fez isso? Eu era apaixonado por tanta atriz e modelo nos meus 15, 16 anos... devo ter casado mentalmente com metade delas. E elas nunca descobriam que eu era bígamo. Se soubessem, dava merda e eu não estaria aqui pra contar história.
Enfim: isso é típico da idade. A projeção, a idealização... e mesmo o recolhimento ao não acessar outras pessoas próximas, como garotos da sua idade na época. Sério: todo mundo passou por isso, não é algo que te aconteceu por conta do abuso que sofreu. Todo adolescente se sente feio, todo mundo está contra nós nessa época e ninguém nos entende. Aí quando crescemos, não entendemos quem passa pelo que passamos.
Mas o problema que mais te fode: a tua buceta. Como gostar da tua buceta, você me pergunta... Olha, convencer uma mulher a gostar de uma buceta às vezes pode ser bem complicado. Mas quando se trata da própria buceta, fica mais fácil. Ainda mais no seu caso, que consegue ter um conhecimento mais profundo do que o sexo pode ser na vida de alguém.
Claro que o que te aconteceu deixará sequelas nesse nível. Ainda mais quando se trata de sexo oral, que é o que você sentia prazer de alguma forma quando aquele filho da puta fazia. E isso a fazia se sentir péssima e suja por gostar. É natural que vá buscar na lembrança física algum vestígio daquele momento. Está fisicamente em você. Mas precisa ligar o sexo oral agora à outras lembranças. Atuais, mais fortes, quando você tem a autonomia e a segurança de optar por tê-lo ou não. Antes lhe fora tomado o direito de escolher se queria ou não, mas agora você tem toda garantia se impor e escolher o que quer pra você.
Ligue o sexo a algo que está ao seu controle, como algo que você opta pelo que quer e quando quer. É seu corpo. é seu desejo, é sua libido. Está em suas mãos - algumas vezes literalmente, né?- e ninguém pode te tomar isso. E vejo que tem nesse cara um bom sujeito a te ajudar nisso. Aparentemente ele te respeita, respeita sua história, não te recriminou nem te fez se sentir mal. Pelo contrário: te fez cogitar se abrir para outro homem - de novo: às vezes, literalmente.
Ele fez com que você se gostasse, sentisse conforto com seu corpo, seus seios, suas curvas. A buceta é o próximo passo inevitável. O que pega é fazer de uma maneira que te traga prazer e te traga menos lembranças. E o jeito disso acontecer é justamente tentando evitar qualquer semelhança com o que te acontecia. Que façam isso num carro num drive, você no banco de trás, em um ambiente totalmente diferente do que lhe acontecia. Que você fique por cima da cara dele, controlando os avanços e ritmos, para que também seja diferente do que você tinha. Isso te trará uma dissociação do que aconteceu.
E mesmo que em algum momento você trave e pare e sinta repulsa e queira sair do ambiente: pare, diga que não está bom pra você, que precisa de um tempo e de um ombro e de um carinho. Se ele fez isso antes e te fez bem, certamente fará de novo. Não precisa ser perfeito na primeira vez, mas precisa haver uma primeira vez. Mesmo que doa, mesmo que te faça parar na metade: faça pra você ter um parâmetro de como reagirá a isso. Depois é que saberemos como poderá agir, minha cara... Você precisa transpor essa última barreira. Quem sabe depois disso, até mesmo o impacto do passado seja menor em você?
Você não esquecerá, você sentirá dias de profunda dor e reclusão. Se lembrará do que aconteceu e sentirá dor e ódio. Mas serão menores. E durarão horas e não dias. E verá que, mesmo que algumas vezes esse fantasma suba à sua cama, ainda assim será o seu corpo e apenas você terá direito sobre ele. E conseguirá mandá-lo de volta pro armário por mais dias e menos noites.
Aproveita que está nessa sede de melhorar e se sentir melhor. Ninguém pode tirar isso de você. Não é uma má pessoa, não fez nada de ruim pra merecer essa situação. Então acorda e vá tentar. A vida te trará várias outras dores, mas só quem sabe o quanto algo pode ser torturante e dolorido é que é capaz de desfrutar de breves momentos de alegria e sossego.
Que seja em uma simples chupada exorcizante de buceta, pois!